Jogo de Provocações
O bar tinha aquele ar esfumaçado de velhas películas em preto e branco, com luzes amarelas penduradas e sombras nos cantos. Sentados na mesa do fundo, eu e ela parecíamos pertencentes a outro mundo. Ela, com sua saia curta, cruzava e descruzava as pernas como se isso fosse a coisa mais natural. Mas havia algo no olhar dela que não era natural, que era, na verdade, predatório.
Ela bebia o vinho com o cuidado de alguém que sabe exatamente o efeito que quer causar. Sua perna esquerda balançava suavemente, tocando a minha por vezes, e eu sabia que aquela noite tinha um propósito.
“Você viu como ele me olha?”, perguntou, encostando os lábios molhados de vinho na minha orelha, enquanto os olhos dela disparavam para a mesa à nossa frente.
Eu vi. O rapaz, de cabelos desgrenhados e um jeito de quem tinha caído no bar sem planos, estava hipnotizado. Mal sabia ele que ela o comandava como um maestro com uma sinfonia.
“Ele não tira os olhos de mim”, continuou, e agora cruzou as pernas mais devagar, deixando que o tecido da saia escorregasse milímetros. Foi aí que notei a brecha – o delicado triângulo de renda que ela, sem dúvida, fazia questão de exibir.
“Ele está gostando disso?”, perguntou, com um sorriso malicioso.
Eu apenas inclinei a cabeça, o gesto mudo de quem dava permissão.
“Posso mostrar tudo?”, ela sussurrou, e havia uma nota de desafio em sua voz.
“Pode”, respondi, segurando seu olhar enquanto tomava um gole da minha bebida. Ela sorriu, aquele sorriso que dizia que estávamos exatamente onde queríamos estar. Era uma pergunta retórica, eu sabia. A decisão já tinha sido tomada antes de ela abrir a boca.
Ela levantou-se de maneira despreocupada, a saia balançando suavemente contra suas coxas. O movimento era um convite, e eu percebi o rapaz da outra mesa praticamente prendendo a respiração enquanto a seguia com os olhos. Ela atravessou o bar até o banheiro com a calma de quem sabe que é observada, a mão deslizando casualmente pela barra da saia, como se estivesse ajustando algo.
De onde eu estava, podia vê-la desaparecer atrás da porta. Meu coração acelerou. Não de ciúme, mas de antecipação. Era isso que ela fazia comigo – me mantinha em uma tensão deliciosa entre o controle e o abandono.
Quando voltou, parecia ainda mais confiante. Não havia pressa em seus passos, apenas um brilho nos olhos que eu conhecia bem. Sentou-se de volta à minha frente, cruzando as pernas com a naturalidade de sempre, mas algo tinha mudado.
“Sem calcinha agora”, ela sussurrou, o sorriso jogado para mim como uma faísca.
Ela começou novamente seu jogo, mas desta vez sem barreiras. A saia subiu apenas o suficiente para que ele pudesse ver. Não precisava ser óbvio. Era mais eficaz quando era um segredo compartilhado, quase acidental, algo que ele podia capturar apenas se olhasse nos momentos certos – e ele estava olhando.
“Ele está ficando desconfortável”, disse ela, mas o tom em sua voz era de diversão. O desconforto não era um problema; era o objetivo.
Eu me inclinei para frente, abaixando o tom da minha voz para que apenas ela pudesse ouvir.
“E se ele vier até aqui?”, perguntei, provocando-a.
Ela riu baixinho, o som quase inaudível no burburinho do bar.
“Talvez eu o convide”, respondeu, o olhar dela brilhando com algo perigoso.
Ela descruzou as pernas, devagar, como se estivesse saboreando o momento, e o rapaz na outra mesa ficou imóvel, como um cervo na mira. Seus olhos desceram para onde ela queria que estivessem. Foi um instante que parecia durar uma eternidade.
Ela olhou para mim, aquele olhar afiado que dizia: Estou no controle, e você sabe disso.
O rapaz mexeu no copo à sua frente, como se precisasse de algo para ocupar as mãos. Parecia lutar contra o impulso de levantar e vir até nós. Ela percebeu e riu baixinho, de um jeito que só eu podia ouvir.
“Ele não sabe o que fazer”, ela disse.
Eu sorri, relaxando na cadeira. “Talvez ele esteja esperando um sinal mais claro.”
Ela apoiou o queixo na mão e fingiu pensar, um movimento tão deliberado quanto o resto de seu corpo. Então, inclinou-se na minha direção e sussurrou:
“Se eu for lá, você vai ficar bravo?”
“Eu vou adorar”, respondi.
Sem hesitar, ela levantou-se novamente, desta vez caminhando direto para a mesa dele. Eu a observei enquanto ela se inclinava um pouco demais sobre a superfície, os lábios próximos ao ouvido do rapaz. Não ouvi o que disse, mas vi a reação: olhos arregalados, um ligeiro sorriso, e um rubor que subia pelo pescoço dele.
Ela voltou para a nossa mesa com a mesma calma felina, mas agora trazia algo diferente – o eco de sua provocação pendurado no ar. Sentou-se ao meu lado, mais perto dessa vez, e pegou meu copo.
“Ele está nervoso”, ela disse, tomando um gole.
“É claro que está”, respondi, os olhos ainda no rapaz, que agora parecia não saber se devia olhar para ela ou fingir que nada havia acontecido.
Ela cruzou as pernas novamente, mas dessa vez me deixou deslizar a mão sobre a sua coxa, sentindo a pele quente contra meus dedos.
“Ele acha que eu estou sozinha”, ela disse, como se isso fosse o maior segredo do mundo.
O jogo parecia interminável, e eu sabia que estávamos apenas começando. O que quer que fosse acontecer, aconteceria no tempo dela, sob as regras dela.
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