Novembro 4, 2025

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A manguerota que não era

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A vida tem destas coincidências que parecem saídas de um daqueles meus esboços a carvão, aqueles que começam com um traço hesitante e terminam numa explosão de sombras e luz. Eu, Mariana, sempre achei que os bombeiros eram uma espécie de fantasia colectiva, uma idealização do heroísmo e da virilidade encapsulada num uniforme. E, minha nossa, que uniforme. Aquele tecido grosso moldando ombros largos, a suggestão de força contida sob o amarelo e o preto. Era uma fantasia que eu, na minha mente de artista, tinha pintado inúmeras vezes: o salvador, o homem robusto, a manguerota… sempre a maldita e metafórica manguerota. A realidade, como um pincel de água numa aguarela ainda fresca, desfez a minha imagem com uma crueza que quase me fez rir de desespero.

Conheci o Ricardo numa tarde comum, numa padaria. Ele estava à minha frente na fila, de calças curtas e uma t-shirt justa que não deixava grande espaço para a imaginação. Não usava o uniforme, mas tinha aquele porte, aquela postura que denunciava o ofício. Um corpo sólido, não particularmente alto, mas bem construído. Troçámos um sorriso tímido sobre a demora dos croissants, e a conversa fluiu com uma naturalidade que me surpreendeu. Era simpático, com um olhar doce que prometia calma, não a tempestade que eu, secretamente, desejava. Troçámos números, e marcámos um encontro para uns dias depois.

A verdade seja dita, a fantasia já começava a rachar nas bordas. Ele não tinha aquele ar de dominância selvagem que eu associara aos homens do fogo. Era gentil, quase contido. Mas a minha mente, traiçoeira, insistia em pintar cenários: ele a carregar-me nos braços, a arrombar portas com um só empurrão, a dominar-me com a mesma intensidade com que domina as chamas. A noite do encontro, ele veio buscar-me a casa. Veio de carro, um utilitário comum, não no seu camião de bombeiro. Um pequeno detalhe que, na altura, ignorei, atribuindo-o ao pragmatismo.

Fomos jantar, a conversa continuou agradável. Ele falava da sua paixão por salvar vidas com um brilho genuíno nos olhos, e eu sentia-me atraída por aquela integridade. Mas havia uma voz dentro de mim, uma voz baixa e lasciva, que sussurrava: “E a outra paixão, Mariana? E a paixão por foder?” Quando ele me trouxe a casa, o ar entre nós estava carregado daquela electricidade silenciosa que precede o toque. Convidei-o a subir para um café, e ele aceitou.

Mal a porta do meu apartamento se fechou, a atmosfera mudou. O olhar doce dele ganhou uma centelha diferente, e eu, sentindo o coração a bater mais rápido, decidi tomar a iniciativa. Puxei-o para mim, e os nossos lábios encontraram-se num beijo que começou suave, mas que rapidamente se transformou numa coisa faminta, desesperada. As minhas mãos exploraram as costas largas sob a sua camisa, sentindo a massa muscular que prometia força. As dele percorreram-me as costas, puxando-me contra o seu corpo, e eu consegui sentir o volume dele a crescer contra a minha barriga.

Aqui, o meu coração deu um salto. A fantasia acendeu-se novamente. Finalmente, a manguerota. Iria ser tudo como eu tinha imaginado. Levei-o pela mão para o meu quarto, onde a luz suave da minha mesinha de cabeceira iluminava os meus desenhos espalhados pelas paredes. Ele olhou para eles, impressionado, mas não houve tempo para discutir arte. A urgência do desejo era demasiado forte.

Despimo-nos com uma rapidez quase desastrada, as roupas a caírem no chão como pétalas de uma flor que desabrocha demasiado depressa. E foi então que o vi. Nu. E a minha fantasia desmoronou-se com um estrondo silencioso que só eu ouvi. Lá estava ele, erecto, sim, mas era… comum. Não era a mangueira grossa e imponente dos meus devaneios, aquela que eu imaginava a encher-me, a esticar-me, a fazer-me gritar com a sua mera dimensão. Era um pénis normal, de tamanho mediano, perfeitamente funcional, mas uma decepção monumental para a narrativa épica que eu tinha construído na minha cabeça.

Tentei não deixar transparecer o meu desapontamento. Deitei-me na cama, abrindo os meus braços para ele, tentando focar-me no momento, no calor da sua pele, no cheiro do seu pescoço, que era limpo, a sabonete, não a fumo e suor heroico. Ele cobriu-me o corpo com o seu, e o seu beijo desceu pelo meu pescoço, pelos meus seios. A sua boca era hábil, a sua língua desenhou círculos nos meus mamilos até eles ficarem duros como pedras, e um gemido escapou-se-me. Havia talento ali, uma atenção aos detalhes que, noutra circunstância, eu teria adorado.

Ele posicionou-se entre as minhas pernas, que eu abri para ele, ainda esperançosa de que a realidade fosse, de alguma forma, superar a expectativa. Senti a ponta dele a pressionar a minha entrada, já tão molhada de antecipação e de uma certa frustração. Ele olhou-me nos olhos, e eu anuí, um gesto pequeno e silencioso. E então, ele entrou.

E foi… bom. Era quente, era íntimo, os seus quadris a colidirem com os meus com um ritmo constante. Ele gemeu no meu ouvido, e eu envolvi-o com as minhas pernas, tentando aprofundar a conexão, tentando encontrar aquele êxtase que eu sabia que o meu corpo era capaz de alcançar. Mas a minha mente não se calava. “É isto?”, sussurrava a voz interior. “É esta a fogueira que ele vai apagar? Um fogo de palha?”

Movia-se dentro de mim, e eu sentia o prazer a crescer, um calor a espalhar-se pela minha barriga, mas era um prazer contido, domesticado. Onde estava a fúria? Onde estava a perda de controlo? Onde estava o homem que enfrenta o inferno sem medo? Fechava os olhos e tentava imaginar, tentava pintar na escuridão das minhas pálpebras a cena que eu queria: ele a virar-me de bruços com força, a agarrar-me os quadris, a arrombarme com uma intensidade que me fizesse esquecer o meu próprio nome.

E então, subitamente, o ritmo dele perdeu a cadência. Os seus gemidos tornaram-se mais agudos, mais desesperados. Os seus músculos contraíram-se e ele enterrou o rosto no meu pescoço com um suspiro rouco e profundo. Senti um pulso quente dentro de mim, um, dois, três jactos, e depois… silêncio. O seu corpo desabou sobre o meu, pesado, ofegante.

Não podia acreditar. Tinham passado talvez dois, três minutos desde que ele tinha entrado em mim. A minha própria onda de prazer, que estava a caminho, a construir-se lentamente, retrocedeu como uma maré envergonhada. Fiquei deitada ali, a olhar para o teto, a sentir o peso dele em cima de mim e o calor da sua semente a escorrer-me pela coxa. A minha fantasia não tinha sido apenas decepcionante, tinha sido tragicómica. Um bombeiro que era um ejaculador precoz. A ironia era tão amarga que eu quase me ri.

Ele rolou para o lado, com um sorriso satisfeito e um pouco envergonhado. “Desculpa, Mariana”, murmurou, ofegante. “Foi tão bom… não consegui aguentar.”

Sorri, um sorriso pequeno e forçado, e acariciei o seu cabelo. “Não tem problema”, menti, a minha voz soando oca aos meus próprios ouvidos. Ele adormeceu pouco depois, o seu corpo relaxado contra o meu. E eu fiquei acordada, a olhar para as sombras que a minha luz de cabeceira projectava nas paredes. A minha decepção transformava-se lentamente numa espécie de ternura triste. Ele era um homem bom, doce, que me tinha proporcionado um momento de intimidade, por mais breve que fosse. A fantasia do bombeiro selvagem tinha-se desfeito, mas a realidade, embora menos intensa, era humana. E, de alguma forma, essa humanidade falhada, essa vulnerabilidade, era também uma forma de beleza. Uma beleza melancólica, é verdade, mas beleza na mesma. A minha próxima ilustração, decidi, iria captar exactamente isso: a fragilidade por trás do herói, o fogo que se apaga antes de incendiar o mundo.

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