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A Primeira Vez que Fiz Amor
Aos 44 anos, depois de um casamento de cinco anos com uma mulher que não deu certo e de criar dois filhos que são a luz dos meus olhos, eu já pensei que tinha visto de tudo. Casei porque era o que se esperava, tentei ser o homem heterossexual que a sociedade queria, mas sempre soube, lá no fundo, que o que realmente me fazia tremer eram os homens. Especificamente, as suas bundas. Um bom par de nádegas masculinas, redondas e firmes, sempre foi o meu ponto fraco. Quando via pornografia, não eram as mulheres que me prendiam a atenção, era o ângulo que mostrava um cu bem aberto, a entrada de um homem noutro, aquele poder e aquela submissão tudo ao mesmo tempo. Nos últimos anos, depois do divórcio, explorei isso. Encontrei homens no Grindr, transexuais em bares discretos, vivi encontros rápidos e intensos onde o que importava era o tamanho do pau, a beleza do corpo, a urgência do desejo. Mas algo sempre faltava.
Até que conheci o Arnoldo no Tinder.
O seu perfil não tinha fotos ousadas. Era ele a sorrir, com óculos, numa livraria. A descrição falava de filmes antigos, de gostar de cozinhar aos domingos, de uma paixão por vinis. Era… normal. E, de alguma forma, isso chamou-me a atenção. Combinámos um café. E foi a conversa mais fácil que já tive na minha vida. Ele também tinha estado num casamento heterossexual que não funcionou, também tinha um filho, também descobriu mais tarde a sua atração por homens. Rimos das mesmas coisas, tínhamos opiniões semelhantes sobre tudo, desde política até à melhor maneira de fazer um bolo de chocolate. Havia uma cumplicidade imediata, uma sensação de ter encontrado um porto seguro.
Marcámos um segundo encontro, e depois um terceiro. E a atração sexual, embora presente, era diferente. Não era aquela coisa animal e imediata a que estava habituado. Era um calor que crescia devagar, uma vontade de o conhecer por dentro, não só por fora.
A noite em que finalmente ficámos juntos foi depois de um jantar em casa dele. Ele cozinhou uma massa, ouvimos música, e a conversa fluiu como sempre. Mas havia uma tensão nova no ar, um olhar mais demorado, um toque casual que durava um segundo a mais. Quando a noite caiu e eu me levantei para ir embora, ele colocou a mão no meu braço.
“Fica”, disse ele, simplesmente. Os seus olhos por trás dos óculos eram sérios, mas suaves.
E eu fiquei.
Não foi para o quarto imediatamente. Ficámos no sofá, a beijar-nos. E o beijo… caramba, o beijo não era só língua e dentes. Era conversa. Era ternura. Era um “estou aqui, contigo”. As minhas mãos percorreram as suas costas, não com a ganância de quem quer despir, mas com a curiosidade de quem quer sentir. Ele era mais magro do que eu, os seus ombros não eram largos, mas havia uma força tranquila nele que me atraía.
“Vamos para a cama, Afonso?”, ele perguntou, a sussurrar contra os meus lábios.
Anuí, sem conseguir falar. A minha mente, normalmente obcecada com imagens de corpos perfeitos e cenas de sexo brutal, estava estranhamente calma.
No quarto, a luz era suave. Despirimo-nos sem pressa, e eu vi o seu corpo pela primeira vez. E a verdade é que ele não tinha o pau mais bonito que já vi. Era normal, como o meu. E o seu rabo… não era aquela esfera perfeita e musculada dos meus sonhos de pornografia. Era um rabo de homem comum, magro, sem grandes pretensões. Mas quando ele se virou para mim, completamente nu, com um sorriso um pouco tímido nos lábios, eu não senti desilusão. Senti… desejo. Um desejo profundo, que vinha de um lugar diferente.
Deitámo-nos na cama e os nossos corpos entrelaçaram-se. Não foi uma luta pelo domínio, não houve um “ativo” e um “passivo” definidos. Foi uma dança. As nossas mãos exploraram-se mutuamente, com uma paciência que eu não sabia que tinha. Beijei o seu pescoço, os seus mamilos, a sua barriga, e cada centímetro da sua pele sabia a descoberta. Quando a minha boca desceu até ao seu pau, ele emitiu um gemido baixo, e as suas mãos enterraram-se no meu cabelo, não para me empurrar com força, mas para me acariciar.
“Devagar, Afonso… não tenhas pressa”, ele sussurrou.
E eu não tive. Chupá-lo foi como saborear uma boa refeição, apreciando cada sabor, cada textura. Não era sobre levá-lo ao orgasmo o mais rápido possível. Era sobre fazê-lo sentir-se bem. Era sobre a conexão.
Depois, ele virou-me de costas e fez o mesmo por mim. A sua boca no meu pau era habilidosa, mas era a sua ternura que me derretia. Ele beijava as minhas coxas, as minhas nádegas, com uma reverência que me comoveu. E quando a sua língua encontrou o meu cu, não foi uma invasão, foi um pedido de licença. Ele lambeu e beijou a minha entrada como se fosse a coisa mais preciosa do mundo, e eu, que estava habituado a ser comido com força e dominância, senti-me venerado. Abri-me para ele completamente, não por submissão, mas por entrega.
“Quero-te dentro de mim, Arnoldo”, disse eu, a voz rouca de emoção.
Ele procurou a proteção, e eu ajudei-o, as minhas mãos trémulas a abrir a embalagem. Ele lubrificou-se com cuidado, e depois lubrificou-me a mim, os seus dedos a massajarem o meu ânus com uma paciência infinita, preparando-me, alongando-me, até eu estar a gemer e a pedir por mais.
Quando ele se posicionou entre as minhas pernas e encostou a ponta do seu pau à minha entrada, os nossos olhos encontraram-se.
“Estás bem?”, ele perguntou, e a preocupação genuína na sua voz fez o meu coração apertar.
“Estou perfeito”, respondi, e era a verdade.
Ele entrou devagar, centímetro a centímetro, dando tempo ao meu corpo para se adaptar. Não havia dor, só uma sensação de preenchimento, de completude. Quando ele estava totalmente dentro de mim, parou, e inclinou-se para me beijar. E ali, com ele dentro de mim, o nosso beijo foi a coisa mais íntima que já experimentei.
Ele começou a mover-se, e o ritmo era lento, profundo, constante. Cada bombada não era só física, era emocional. As suas mãos seguravam o meu rosto, entrelaçavam-se com as minhas. Ele sussurrava o meu nome, dizia coisas bonitas, coisas que eu não ouvia desde… nunca. Eu olhava para ele, para o seu rosto concentrado no prazer, mas também no meu, e senti uma onda de afeição tão forte que pensei que ia chorar.
Isto não era sexo. Isto era fazer amor. Uma expressão que eu sempre achei piegas, mas que agora fazia todo o sentido.
O meu próprio pau, preso entre as nossas barrigas, estava duro e a pingar de precum, mas o foco não estava lá. O foco estava naquele ponto dentro de mim que ele atingia com cada movimento, na conexão dos nossos olhares, no calor que se gerava onde os nossos corpos se encontravam. Foi um orgasmo que se construiu lentamente, a partir de um lugar muito profundo. Quando finalmente rebentou, foi com um gemido suave, quase um suspiro, e o meu corpo estremeceu numa série de convulsões suaves, derramando-me entre nós.
Ele sentiu a minha mudança, o meu corpo a contrair-se à sua volta, e isso foi o suficiente para o levar ao limite. Ele enterrou-se fundo em mim e gemeu, um som longo e satisfeito, e eu senti o pulso quente do seu próprio orgasmo a inundar o meu interior.
Ele desabou sobre mim, ofegante, e eu envolvi-o com os meus braços. Ficámos assim por um longo tempo, os nossos corpos suados colados um ao outro, as nossas respirações a sincronizarem-se lentamente.
Quando ele saiu de cima de mim e se deitou ao meu lado, puxou-me para um abraço. Não houve a corrida imediata para o chuveiro, nem o constrangimento pós-sexo casual. Havia apenas um silêncio confortável.
“Foi… maravilhoso, Arnoldo”, disse eu, a minha voz sainco como um sussurro.
Ele sorriu, um daqueles sorrisos genuínos que faziam os seus olhos brilharem. “Foi. Porque foi contigo.”
E naquele momento, deitado na cama com um homem que não tinha o pau mais bonito nem o cu mais perfeito, mas com quem partilhava a alma, eu percebi. Percebi que depois de uma vida à procura da perfeição física, do corpo ideal, do encontro sexual mais intenso, tinha finalmente encontrado algo infinitamente melhor. Tinha encontrado um porto seguro. Tinha feito amor. E, caramba, que maravilha que foi.


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