Novembro 5, 2025

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A parede fina da Julia

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Pensei que tinha escapado. Há algumas semanas, agarrei umas malas e somei. Não dava mais para viver naquela casa, naquele manicómio dourado onde a Viviane montou o seu harém pessoal e o meu pai, o grande corno, fingia que não ouvia os gemidos alheios a ecoarem pelos corredores. Cada dia era uma tortura nova, uma cena mais depravada do que a anterior. Saí. Deixei para trás a guerra perversa e o cheiro do sexo dela, que impregna as paredes até hoje.

Mudei-me para um apartamento minúsculo com o Rafael, um amigo da faculdade. O Rafael é um tipo porreiro, descontraído, daqueles que não desconfia de nada. E tem a Julia. A Julia. Maldita seja a hora em que a conheci, porque ela tornou-se instantaneamente a minha nova obsessão, a minha nova maldição.

A Julia é o oposto da Viviane. Tem um ar de pureza, cabelos castanhos que cheiram a champô de coco, e uns olhos claros que parecem sorrir mesmo quando está séria. É divina. E é do meu amigo. Nos primeiros dias, a convivência foi tranquila. Ríamos, partilhávamos as despesas, eu ajudava com o lixo. Um cenário perfeito de normalidade que eu, condenado que sou, estava destinado a contaminar.

Tudo começou numa noite de chuva. O apartamento é pequeno, os quartos são separados por uma parede tão fina que parece de papel. Estava na minha cama, a tentar ler, quando os ouvi. Sussurros primeiro. Depois, o som abafado de beijos. E então… então começaram os gemos. Não eram discretos, não eram contidos. A Julia grita. Grita como uma puta em cio, com uma voz gutural e rouca que não combina nada com a sua doçura diurna.

“Isso, Rafael, assim… porra, assim mesmo!”, ela gritou naquela primeira noite, e o meu corpo inteiro ficou em alerta. O meu pau, esse traidor, ficou duro instantaneamente, uma reação visceral e automática que me encheu de nojo e de um tesão incontrolável. Fiquei imóvel, a ouvir. O som da cama deles a ranger num ritmo frenético, os grunhidos baixos do Rafael, e os gritos cada vez mais altos e sujos da Julia. “Enche-me, vai, enche esta tua cadela!”

Não consegui evitar. A minha mão foi para dentro das calças e comecei a bater uma punheta com uma raiva e uma luxúria que me sufocavam. Gozei naquela noite ao som do orgasmo dela, um grito prolongado que parecia rasgar a parede e entrar directamente no meu quarto. E com o gozo, veio a culpa. A mesma culpa amarga que sentia depois de cada sessão com a Viviane.

Mas esta noite não foi um incidente isolado. Tornou-se um ritual. Todas as noites, ou quase, o espetáculo repete-se. E a Julia… a Julia parece pior. Mais vocal. Mais exibicionista. Há noites em que os seus gritos são tão altos, tão detalhados – “Está a doer, está a doer tão bem!” ou “Meteste todo, senti na garganta!” – que juro que ela quer que eu ouça. Quer que eu saiba exactamente como o meu amigo a fode, como ela goza, como ela é uma cadela na cama.

Ontem foi o cúmulo. Eram quase três da manhã. Estava a chover outra vez. E os gritos começaram, mas desta vez vinham da sala. Senti um impulso doentio. Saí do meu quarto, silenciosamente, e espreitei pela fresta da porta da sala. A luz do candeeiro de pé estava acesa, projectando sombras dançantes na parede. E lá estavam eles. Ela estava de quatro no sofá, completamente nua, as costas arqueadas. O Rafael estava atrás dela, a segurá-la pelos quadris, a metê-la com uma força brutal.

“Grita, minha puta, grita mais alto”, ele rosnava, e ela obedecia, urrando de prazer.

Os olhos dela estavam fechados, a boca aberta num O perfeito de êxtase. De repente, os olhos abriram-se. Não sei como, não sei porquê, mas ela olhou directamente para a fresta da porta. Para mim. E não parou. Não fechou os olhos. Manteve o meu olhar enquanto o namorado a fodia sem piedade, e um sorriso pequeno e perverso surgiu nos seus lábios. Foi só um segundo, mas foi suficiente.

Voltei para o meu quarto, o coração a bater como um tambor ensurdecedor. Sentei-me na cama, a tremer. A minha mão, traidora como sempre, já estava a mover-se no meu pau. Gozei rapidamente, em silêncio, com a imagem daquele olhar e daquele sorriso queimado na minha retina.

Esta manhã, a Julia estava na cozinha, a preparar panquecas. Vestida com um roupão de banho, o cabelo ainda húmido. Cheirava a limão e a limpeza.

“Bom dia”, disse ela, com a sua voz doce de sempre. “Dormiste bem?”

O seu olhar era límpido, inocente. Nada da fera da noite anterior.

“Mais ou menos”, murmurei, desviando os olhos. “O som da chuva acordou-me.”

Ela sorriu, um sorriso largo e aberto. “Pois, a chuva… às vezes disfarça outros barulhos, não é?”

Não respondi. Senti o meu rosto arder. Ela virou-se para a frigideira, e eu jurei ter visto o roupão a abrir-se ligeiramente, mostrando um pedaço da sua coxa, onde uma marca roxa, uma nódoa negra, estava visível.

Maldito seja. Maldito seja este apartamento. Maldita seja esta parede fina. E maldita seja eu, por estar condenado a ser sempre o espectador, o voyeur, o escravo de um desejo que nunca me pertence, mas que me consome por dentro. A Viviane trocou-me por sobrinhos mais novos. E eu troquei-a por uma doce ilusão que grita como uma perversa nas profundezas da noite. A guerra continua, só mudou de campo de batalha. E eu, mais uma vez, estou a perder.

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