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Nada será como antes
Olho para a mensagem, aquelas três palavras e suspiro, sem saber como reagir, muito menos saber como responder para aquela mensagem. Lembrando da discussão que teve com Fernando à noite passada, o que a deixou confusa. Já era tempo que eu sabia que o nosso relacionamento nunca foi um mar de rosas.
“Provavelmente ele está só arrependido do jeito que falou comigo ontem.”, eu penso sozinha. Eu bem sei como ele fica inconveniente quando bebe.
Não que ele fosse má pessoa, longe disso, sempre me tratou com muito respeito, muito cuidado, muito amor. Disso eu não podia me queixar. O defeito é que ele bebia além da conta e acabava falando coisas desagradáveis que eu não merecia ouvir. Mas eu sabia que nunca seria capaz de me machucar, ou, pelo menos, isso era o que eu pensava.
Além deste defeito ele é um ótimo namorado, um bom noivo, se eu não gostasse dele não estaríamos há quase cinco anos juntos. Nos conhecemos por amigos em comum, nos entendemos logo de cara e com menos de um ano junto já estávamos morando juntos.
Sorrio lembrando dos nossos momentos juntos e me entristeço quando lembro de todas as coisas ruins que ele me chamou quando brigamos. O motivo da briga foi o mesmo de sempre, o ciúme bobo dele comigo.
Enquanto ele estava me esperando no trabalho, me viu conversando com um colega de trabalho sobre uma planilha que ele não tinha entendido. Eu prontamente expliquei tudo e saí, entrando no carro e beijando meu noivo. Foi um beijo seco mas eu pude sentir o aroma de bebida e ele dirigia, sem dizer uma palavra só no caminho de volta. Toda vez que eu tentava puxar assunto ele me deixava falando sozinha, mas foi no momento que entramos em casa ele desandou a falar.
– Quem era aquele cara, que estava todo amiguinho contigo, hein? Fernando me pergunta, levantando a voz comigo.
– Por favor, não começa. Ele trabalha comigo, pediu ajuda pra entender uma planilha, só isso. Respondi calmamente para Fernando, que estava espumando de raiva.
– E precisava ir lá e explicar pra ele bem de pertinho? Ele não é capaz de entender sozinho? Ótimo funcionário que a empresa arranjou.
Olho para o Fernando e não reconheço mais o meu noivo, meu ex-noivo, já nem sei mais. Esse não é o homem por quem eu me apaixonei, não pode ser!
– O Diego começou hoje na empresa, teimoso! Nem todo mundo nasce sabendo de tudo, amorzinho… Respondo para ele, tentando contornar a situação mas vejo ele me encurralando contra a parede.
– Que bonito, dona Alice, muito bonito. Quem me garante que quando estou no trabalho você não vai trazer o seu amante aqui? O que mais falta, ele te comer na nossa cama? Fernando fala, gritando isso aos quatro ventos.
Fico abismada, não acreditando. Não me contenho e dou um tapa na cara dele. Me assusto comigo mesma e com toda a situação que está acontecendo. E nunca dei motivo para ele pensar de forma errada sobre mim!
– Como você ousa? Eu nunca dei motivo para desconfiar de mim! Eu falo chorando, pegando minhas coisas e saindo, sem olhar pra trás.
Entro no ônibus e começo à chorar desesperada, não acreditando no que está acontecendo. O trajeto leva cerca de 40 minutos. De repente estou de volta aos meus dezesseis anos, voltando do colégio, o cheirinho do almoço pronto, a mesa posta… Sorrio amargamente, oh nostalgia…
– Oi mãe. Entro e a abraço forte, indo direto para o meu quarto, sorrio amargamente, não mudou nadinha, inclusive ainda tem algumas roupas minhas… Deito e choro, dormindo até amanhecer.
Acordo cedinho, olhando para o meu telefone, sete chamadas perdidas do Fernando e uma mensagem: “Me perdoa amor, volta pra casa, pra nossa casa. Não sou nada sem você. Eu te amo muito.”. Coloco o telefone na cama e vou para o banho e indo tomar café.
– O que aconteceu, filha? Nunca te vi desse jeito. Minha mãe me olha, preocupada.
– O Fernando sendo um babaca pra variar. Confesso, olhando para baixo, envergonhada por deixar a situação chegar à esse ponto.
– Ele nunca foi flor que se cheire, sempre o achei muito metido, muito superior. Mas como eu vi o quanto você gosta dele não me intrometi. Ela diz, comendo um pedacinho de pão.
– Eu sei mãe, mas ele é muito ciumento, chega à ser doentio. Só pela minha expressão ela pode perceber que eu estava exausta.
– Você sabe que pode ficar aqui pelo tempo que quiser. Pensa bem no que vai fazer, não presta resolver as coisas de cabeça quente. A mãe me aconselha e eu sei que ela tem razão.
Mas eu estava sendo sincera, não podia largar tudo, desistir assim do nada de uma forma tão facilmente!
– Eu sei mãe, mas eu realmente preciso ir, não posso largar ele assim do nada. Vou conversar com o Nando, ver no que dá. Falo, decidida, terminando de tomar café rapidinho, troco de roupa e pego o ônibus, voltando para casa.
Foram 40 longos minutos até chegar em casa. Pego o elevador e vou até o quarto andar. Fico nervosa, pegando as chaves na minha bolsa, deixando cair devido ao meu nervosismo. Abro a porta e entro.
– Oi Fernando, onde você está amor? Procuro por todo o canto e não o acho. Vou andando até que ouço uma voz ao fundo. Risada de mulher. Vejo roupas jogadas no chão, vestido, calcinha, sutiã e por último sapatos. Não, não pode ser. Ando em direção ao quarto, e encontro a ex dele Marcela de quatro e o meu noivo dentro dela! E na nossa cama ainda por cima!
– Seu desgraçado! Pego o sapato e jogo nele. Fernando me olha assustado e larga a ex lá.
Burra, burra, burra. Eu toda preocupada e ele enchendo todos os buraquinhos dela de gozo, aposto.
– Amor, não significou nada. Fernando vem me abraçar e eu me largo do abraço dele.
– Sai daqui! Como eu pude ser tão burra, meu Deus do céu!
– Amor, não fica assim vida. Desculpa, eu te amo! Não desiste de mim, de nós…
– Para de me chamar assim, para! Vai chamar tua amante, tua ex de amor, acabou tudo, tudo! Some da minha vida, me esquece!
Após me decidir, prontamente faço minhas malas, pego a maioria das minhas roupas e saio, deixando para trás todo tempo junto, tantos planos. O que deixei lá não vou voltar buscar, não consigo ficar mais um minuto aqui.
Sorrio amargamente, largando o anel de noivado na mesa. Ironicamente me lembro da música de Maysa, com uma linha que diz “Se meu mundo caiu/Eu que aprenda a levantar ”.
E é exatamente o que vou fazer, vou continuar, vou viver minha vida e o principal, vou te esquecer, por mais difícil que seja.
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