— Emilly! — A voz dele cortou o ar como navalha afiada. Firme. Exigente. Um comando, não um cumprimento.

Ela demorou. Atendeu com a respiração fraca. — Oi…

Mike fechou os olhos por um segundo. O som da voz dela era puro pecado disfarçado de inocência. A raiva subiu, mas era uma raiva excitante. Deliciosa. Controlada.

— Você é maluca?! Qual é a sua, garota?! Sair daquele jeito do bar, me empurrando?! Todo mundo me olhando! Você tem ideia da cena que criou? Porra, Emilly! Que idade você tem? Quinze? Saiu do ensino médio semana passada?

Do outro lado, silêncio. Depois, a voz trêmula, desconcertada.

— Eu… eu não gostei do jeito… não foi certo…

Ele riu. Um riso curto. Sem alegria.

— Caralho, Emilly. Eu só te beijei. Um beijo! Você tem 23 anos e escreve putaria online, mas na vida real age como uma freira em retiro?! De qual buraco você saiu?

Ela tentou respirar. As palavras o atingiam como tapas. Ela estava chorando. Mas não desligava. Porque não podia. Porque já era dele, mesmo sem saber.

— Gente normal se encontra num bar e transa. Simples. Vai me dizer que saiu de um convento agora?

Soluços abafados do outro lado.

— Ninguém beija assim… — sussurrou, quase sem ar.

Mike arqueou a sobrancelha. — Então nunca foi beijada de verdade. Ficou assustada porque eu te fodi com a língua? Porque eu te beijei como homem beija mulher que quer de verdade? Isso se chama tesão, Emilly. Real. Cru. Você só conhece isso em texto. Na pele, você congela.

Mais silêncio. O som da respiração dela vinha cortado. Fraco. Doloroso.

— Por favor… fica calmo… — ela pediu entre soluços. — Eu não estou fazendo cena. Eu… eu sou uma idiota.

Mike bebeu um gole. A voz veio mais baixa. Quase carinhosa.

— Escuta bem: se quiser passar uma noite comigo, como mulher adulta, me liga. Vai ter beijo, toque, prazer. Com carinho, porque eu sei como tratar uma mulher. E eu quero você, Emilly. Você tá me ouvindo? Quer que eu repita?

Ela não conseguia responder.

— Agora… se quiser continuar nesse teatrinho de santinha, esquece meu número.

— Mike… — sussurrou ela.

— O quê?

— Você… não faz assim… — veio pequeno, partido.

Ele respirou fundo. A mandíbula travada.

— Já deu, Emilly. Você tem 23 anos. Eu já estive com garotas de 20 muito mais maduras que você. Você é uma fraude. Esse joguinho de ‘estou nervosa’ passou do limite. Eu não quero Lady Lara. Quero você. A garota linda dos campos de soja do Arkansas.

Silêncio.

— Quer brincar de gente grande? Me liga. Quer continuar fingindo que sente alguma coisa com textos escritos por você mesma, se toca sozinha com suas próprias fantasias? Faz isso sozinha. Porque eu não vou continuar aqui esperando você criar coragem.

— Mike, você passou dos limites… aquilo… aquele beijo… não é jeito de se beijar alguém! — ela disse, mais firme, suando frio.

— Não é pra você, então. — ele respondeu, seco. — Mas pra gente adulta, é. É assim que eu sou. Não vou mudar. Meu beijo te ofende? Problema seu.

Ele olhou para a cidade. A cidade que nunca dorme. Que testemunhava sua calma construída no caos.

Ela soluçava. O som dela o deixava quente. E ainda mais duro.

— Eu só não digo mais porque não agrido mulher com palavras. Mas se quiser me ligar pra transar, com prazer. Eu te como com alma. Com força. E te faço virar a mulher que você finge ser. Agora… se quiser continuar vestida de santa, pode voltar pro seu mundo de mentira. A realidade? A realidade é minha cama. E você já sonha com ela.

— Tchau.

Ele desligou.

O silêncio no apartamento era absoluto.

Trecho do livro Emilly de Maeve Harlow