Maio 20, 2025

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O caseiro - Parte 1

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Meus pais nunca foram ricos, mas sempre trabalharam muito. Agora que já tenho 18 anos e estou na metade do meu último ano escolar, eles decidiram que era o momento de realizar um sonho antigo: comprar uma chácara para passarmos os finais de semana. Meu pai, advogado criminalista, e minha mãe, fisioterapeuta, sempre foram pais incríveis em tudo que estava ao alcance deles. Nunca me deixaram faltar nada — em nenhum aspecto, seja material ou emocional.

O problema da nossa relação sempre foi só um: a religião. Nunca fui um garoto de muita fé. Desde que perdi minha irmã gêmea, aos cinco anos, em um afogamento, essa parte da minha vida ficou enevoada e me tornou bastante cético. Meus pais sempre acreditaram muito em Deus e me obrigaram a ir para a igreja durante todos esses anos. Só depois de oficialmente maior de idade é que pude escolher meu próprio caminho.

Na realidade, existe mais um problema… Eu sou gay. Ninguém sabe disso. Nem mesmo a minha melhor amiga, Júlia. Fiz ela acreditar que nunca me relacionei com ninguém por causa de uma promessa que meus pais fizeram quando eu era criança — eu sei, é estranho. Para os meus pais, eu não contei por medo de não ser aceito. Já para a Júlia, eu simplesmente não quis ter que me explicar. Ser gay implicaria admitir que gosto de garotos, e isso nunca aconteceu comigo — pelo menos até agora —, e ela não me deixaria em paz.

Nunca fui o tipo bonito. Sempre tive as melhores notas da escola. No meu quarto, ostento uma enorme coleção de títulos que ganhei ao longo dos anos. Sou fluente em inglês e japonês, além da minha língua materna. Toco três instrumentos musicais e sou um excelente escritor. Mas, apesar de tudo isso, sempre fui invisível. A única pessoa, em todos esses anos, que viu algo em mim foi a Júlia.

Voltando ao sonho dos meus pais: passamos os últimos três meses visitando propriedades nos arredores da cidade onde moramos. Foi exaustivo. Não poderia ser nada grande demais, para não dar muito trabalho, mas também não podia ser muito pequeno. Precisava ter espaço para uma piscina e um estábulo. A casa seria grande, feita em madeira rústica — escolha da mamãe. No começo, tudo isso me parecia chato, mas a alegria deles acabou me contagiando. Depois de uma busca minuciosa em todos os sites de venda que encontramos, finalmente achamos o lugar perfeito.

Meu pai, sempre adiantado, já contratou uma empreiteira para a obra e vai ver todos os materiais na segunda-feira. O domingo chegou com aquele calor preguiçoso típico de final de semana no interior. O sol já invadia meu quarto quando a notificação do celular vibrou sobre o criado-mudo.

JÚLIA

“Acordaaaaa! Já estou indo! Hoje você não escapa da minha presença, meu antissocial de estimação.”

Sorri. Júlia era o tipo de pessoa que invadia a vida da gente sem pedir licença, mas de um jeito tão genuíno que era impossível não gostar. Ela sempre foi tudo que eu não era: extrovertida, barulhenta, segura de si. E talvez por isso a nossa amizade funcionasse tão bem. Ela dizia que eu era sua “bússola emocional”, o que eu nunca entendi muito bem, mas aceitava com certa honra.

Levantei da cama, me olhei no espelho e, como de costume, arrumei os cachos rebeldes. O rosto ainda carregava os vestígios do sono e da adolescência — espinhas, olheiras e aquele olhar de quem pensa demais e sente em dobro.

Desci as escadas e fui direto para a cozinha, onde meus pais tomavam café animados discutindo a quantidade ideal de madeira de demolição pra varanda da chácara. Dei bom dia, peguei uma maçã e saí antes que me colocassem para revisar orçamento.

Júlia chegou como um furacão colorido, como sempre. Usava um vestido florido, óculos escuros enormes e uma bolsa transbordando de coisas aleatórias. Antes mesmo que eu abrisse o portão, ela já gritava:

— “Vamos, nerd! Hoje você vai lembrar o que é ser um jovem de 18 anos num domingo de sol!”

— Achei que o plano era só assistir filme e reclamar da vida — resmunguei, entrando no carro.

— E é! Mas com sorvete, fofoca e talvez uma invasão a alguma propriedade alheia. Nada fora do padrão — ela piscou, e eu balancei a cabeça, rindo.

Fomos direto para o parque municipal. Era nosso lugar preferido desde os tempos do ensino fundamental. Tinha sombra suficiente para não derretermos, bancos isolados para conversas existenciais e, o mais importante: um carrinho de churros no portão de entrada.

Sentamos sob uma árvore enorme, com a brisa leve bagunçando nossos pensamentos. Júlia tirou da bolsa dois potinhos de sorvete — como ela tinha guardado isso ali dentro sem derreter, eu preferi nem perguntar — e começamos a conversar.

— E aí, como está o lance da chácara? — ela perguntou, entre uma colherada e outra.

— Indo. Meu pai vai ver os materiais amanhã. Acho que dentro de umas semanas já começa a obra.

— Isso quer dizer que você vai virar um desses playboys com casa de campo? Tô vendo tudo… Vai me trocar por amigos de tênis caro e camisa polo.

— Claro. Vou até comprar um cavalo e dar o nome de Júlia, só pra manter você por perto — respondi, fazendo ela gargalhar.

Conversamos por horas. Sobre a escola, sobre o TCC dela, sobre nossos professores esquisitos. Eu me sentia bem com a Júlia. À vontade. Como se, por algumas horas, o mundo parasse de pesar nos meus ombros.

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