O Jogo de Clara
O relógio na parede marcava pouco mais das nove da noite. No centro da sala, a mesa de madeira, iluminada por uma luz amarelada, era o cenário de um jogo de cartas entre amigos que há tempos se conheciam. Eduardo, sempre expansivo, ria alto enquanto embaralhava as cartas. Ao seu lado, Clara, sua esposa, exalava confiança e charme, sentada com as pernas cruzadas. Vestia apenas uma camisa social masculina, estrategicamente abotoada de forma que deixava vislumbres calculados de pele.
Eu tentava manter a concentração no jogo, mas era quase impossível. Clara tinha uma forma de ocupar o espaço que atraía olhares sem esforço. Eduardo sabia disso, e parecia se divertir com a tensão velada que permeava o ambiente. Era como se o casal dançasse uma coreografia invisível que apenas eles entendiam.
“Você vai jogar ou ficar admirando as cartas, meu amigo?” Eduardo provocou, interrompendo meus pensamentos.
“Calma aí, só estou pensando na estratégia,” respondi, forçando um sorriso.
Clara riu baixinho, um som quase inaudível, mas cheio de significado. Quando levantou a mão para prender os cabelos em um coque improvisado, a camisa subiu ligeiramente, revelando por um segundo algo que parecia intencional. Marina, a amiga que completava o grupo, ergueu as sobrancelhas e lançou um olhar rápido, como se estivesse avaliando a situação, mas não disse nada.
“Você está com sorte hoje, Clara?” perguntei, tentando retomar o foco.
“Eu sempre tenho,” respondeu ela, inclinando-se ligeiramente para alcançar seu copo. O movimento parecia casual, mas havia algo na forma como seus olhos encontraram os meus que deixava claro: nada era por acaso.
O jogo continuava, mas a tensão no ar era quase palpável. Eduardo parecia se deliciar com as interações, lançando olhares cúmplices para a esposa de tempos em tempos. Marina, por sua vez, se mantinha em silêncio, mas havia um leve sorriso nos lábios, como se fosse a única pessoa na sala a compreender completamente o subtexto.
A noite seguia assim: cartas, risadas e provocações sutis, tudo embalado por uma trilha sonora de confidências não ditas. Clara parecia ter domínio completo da situação, alternando entre brincadeiras inocentes e olhares que deixavam marcas. Eduardo jogava seu próprio jogo, à vontade, como se fosse o anfitrião de um espetáculo privado.
Enquanto Eduardo ria de uma piada qualquer e Marina se levantava para buscar outra garrafa de vinho, Clara deixou cair uma carta no chão. Ela se inclinou devagar para pegá-la, a camisa deslizando levemente sobre suas coxas. Quando voltou à posição, seus olhos encontraram os meus, firmes e carregados de algo que parecia um desafio. Com um leve sorriso no canto dos lábios, ela sussurrou apenas para que eu ouvisse:
“Cuidado com as jogadas erradas… você pode perder mais do que o jogo.”
Deixe um comentário
Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.