VOU ... NÃ?O VOU ... parte 1
Manhã fria e neblina forte, ainda não amanheceu. Sozinho no carro, pouco transito, ia pensando na vida. Estava tenso, uma tensão de adolescente, apesar dos meus 45 anos bem vividos. A esposa voltou a dormir quando a beijei e saí para esta viagem.
Viagem que nunca acreditei fosse acontecer algum dia. Uma viagem muito especial, ia me encontrar pela primeira vez com um homem, nos seus 50, e não era a trabalho.
Conhecemo-nos pela internet num desses chatrooms espalhados pelo mundo. Ambos eramos casados, com a diferença de ele já ser experiente no relacionamento gay, eu entrei lá só por curiosidade, depois descobri que nunca fui o unico a proceder assim para desvendar e participar do universo gay.
Começamos a conversar, um papo interessante em clima muito agradável, ele super simpático despertou em mim uma fascinação por ele. Passamos a nos encontrar, via net, todos os dias em conversas as vezes longas mas sempre encantadoras e muito divertidas. Nos dias que não nos encontravamos sentia um vazio aflitivo dentro de mim e no nosso reencontro um alivio e felicidade imensa.
Aos poucos foi se introduzindo entre nós uma conversa de nos encontrarmos. Eu tentava ir adiando dizendo que nunca estive com homem e temia perder nossa linda amizade. Mas ele com sua maneira impositiva e habilidade nos dialogos acabava dirigindo nossas conversas, e eu aceitei com naturalidade esta maneira de ser dele e o acompanhava sempre.
Nem me dei conta de que ele, na realidade, se colocou como o parceiro ativo e com isso definiu meu lado.
Eu ficava nervoso ao imaginar nos encontrassemos a primeira vez, eu dizia que não sabia se um dia iria tão longe. Ele me respondia com uma frase que me marcou:
“-A questão entre nós não é mais SE nos vamos encontrar, mas sim QUANDO nos vamos encontrar meu querido.“
Confesso que me abalou, afinal era casado há muitos anos me considerava heterosexual e um encontro assim simplesmente não fazia parte do meu futuro. Bem, eu pensava assim, mas a alegria que sentia sempre que nós encontravamos no chat, já não me dava tanta certeza assim sobre quem eu era …
As duvidas e incertezas para mim eram muitas, os receios enormes. Para ele nosso encontro era uma certeza e comportava-se de acordo, a abordagem dele desde o início era de que nossos destinos cruzaram e daqui seguiriam paralelos.
Tranquilizava me o fato de ele também ser casado e maduro, um pouco mais doque eu, portanto achava que não existiria a possibilidade de uma aventura irresponsável colocando em risco meu casamento e vida profissional, por falar nisso sou arquiteto e ele advogado, mais tarde descobri que o negócio dele era uma rede de perfumarias em shopping-centers. As esposas ambas, coincidencia, eram jornalistas, mas estas não vem ao caso.
Depois de muita e simpatica insistencia dele resolvi aceitar nos encontrarmos. Ele tinha um apartamento numa cidade proxima onde podiamos nos encontrar longe do nosso ambiente familiar, sem riscos de alguma incomoda testemunha. Como havia trem entre as duas cidades, decidimos que eu iria de trem e ele de carro, porque tinha negócios a resolver por lá depois do almoço, na volta ele me deixaria na estação e cada um seguiria nos seus afazeres.
Agora, aqui estava eu solitário, ruas ainda escuras. Limpador de para-brisas ligado, a cada passada dele era como se eu tentasse vislumbrar o futuro das proximas horas, quase não acreditava no que aceitei fazer. Eu indo ao encontro de um homem verdadeiro, que me convidou a estar com ele porque desejava ter prazer comigo, eu ia dar prazer a um homem. Ia ser por ele penetrado, o que eu iria sentir naquele momento.
Em varios instantes pensei em dar meia-volta e esquecer tudo fazendo de conta que isso nunca aconteceu. Mas a voz macia e firme dele insistia comigo, venha não desista. E lá ia eu cada vez mais longe de casa.
Agora estava aqui parado na pequena fila de carros na entradado estacionamento da estação.
Volta para casa ouvia minha mente, mas não reagia. A fila avançava e agora já estava com o cartão do estacionamento em mãos.
Rodei um pouco para mais perto da entrada da estação, estacionei o carro, desliguei o motor no subito silencio, como que acordei e voltei a pensar … vou … não vou.
Ana ex-R
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