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A Ruiva, o Otário e uma Mão de Pôquer
Por cima do valete de copas que tenho na mão, posso ver uma fina gota de suor escorrer pela têmpora do otário sentado à minha frente e, neste exato momento, tenho a certeza de que está blefando.
Por incrível que pareça esta é a primeira mão boa que recebi na noite e, em vez de pedir para sair, o otário quer manter o blefe mesmo tendo um jogo que não vale nada.
Estamos na última rodada, os demais jogadores já se levantaram, recolheram suas fichas e se arrumam para ir embora. A esposa do otário faz as honras da casa e leva os amigos até a porta, despede-se já marcando outro carteado para a semana que vem.
Enquanto que na mesa ele sobe a aposta colocando todas as suas fichas mais um relógio para sustentar o blefe, ela recolhe copos e travessas de petiscos, e nos olha com expressão de alívio pela noite estar acabando.
“Straight flush”, uma mão quase impossível de se conseguir. É tão difícil de acontecer que, quando eu cubro sua aposta e aumento com todas as minhas fichas, o otário tem absoluta certeza de que eu também estou blefando.
Sua esposa serve-se de um último scotch com gelo e vem sentar-se à mesa para acompanhar o desfecho do jogo. São um casal novo, os dois ainda bem jovens, morando nesta bela casinha onde tudo cheira a novo.
Enquanto ele pensa no que fazer, fico imaginando se ela já descobriu o vício de seu esposo pelo jogo. Percebendo a hesitação do marido na jogada, ela faz menção de esticar o pescoço para ver suas cartas, mas ele instantaneamente abaixa o jogo e as esconde.
Pior ainda, calculando que ao fazer isso pode estar entregando seu blefe, ele sente uma necessidade absurda de afirmação, e é claro para mim que vai tentar mantê-lo a qualquer custo.
“Estamos sem fichas. Eu quero cobrir sua aposta, mas não tenho mais com o quê. Como fazemos para encerrar de vez a mão?”, pergunta ele tentando inutilmente manter um ar de superioridade.
Girando a carta fechada sobre a mesa enquanto o miro dentro dos olhos com frieza, ocorre-me fazer um favor ao casalzinho. Vou mostrar a ela que seu marido tem um problema sério com jogo e, paralelamente, vou fazê-lo enxergar que se casou com uma puta. É exatamente isso que eu disse: ela pode nem saber, mas é uma puta.
Desde que me sentei à mesa, observo como ela joga charme para os convidados, sempre disfarçando com sorrisinhos e olhares de esguelha seu interesse em outros homens, mas, ao mesmo tempo, entregando-se sem perceber pelo gesto repetitivo de enrolar os cachos do cabelo ruivo no dedo indicador quando um deles lhe dá atenção.
Na vida, como no pôquer, tudo se resume a saber observar.
Respiro fundo e, enquanto olho novamente minhas cartas simulando estar absorto, solto a bomba de uma vez: “É o seguinte, estou com um carro zero estacionado aí fora. Minha mão é tão boa que ponho o carro para jogo. Mas, em troca, você terá que pôr a bundinha da sua esposa na roda”.
Obviamente que minha proposta provoca a revolta e muitas reclamações de ambos, ficaram indignadíssimos, ela falando alto, ele bufando de raiva.
“É só uma aposta e, se você tem tanta confiança assim no seu jogo, não vejo problema em aceitar. Mas tudo bem, se não quer apostar, eu pego meu dinheiro e o seu relógio, vou-me embora e vocês podem ir dormir tranquilos”, argumentei.
“Pois para mim você está blefando! Fez isso de uma maneira extrema, está arriscando tudo para sustentar seu teatrinho, mas não me engana! Eu topo a aposta!”, ele responde batendo a mão na mesa.
“Você ficou maluco? Vai me apostar assim, como se fosse meu dono? E quem disse que eu quero dar bunda se você perder? Pois fique sabendo que não pertenço a você e, para este sujeito safado aí, eu não dou nem boa-noite, muito menos a virgindade do meu cuzinho!”, gritou a esposa.
Os dois permanecem discutindo aos berros por vários minutos enquanto eu me limito a ficar ali tomando meu scotch e vendo o circo pegar fogo, até que ele conseguiu tranquilizá-la, dizendo que sua mão é imbatível e que certamente vão ganhar o meu carro.
Bingo. Ele é tão viciado que vai apostar o cuzinho da esposa ruivinha, e ela é tão puta que, depois de fingir-se indignada, termina concordando com o risco de agasalhar minha tronca no rabo.
Estamos os três sentados na mesa e o clima de tensão está pesadíssimo, o silêncio é tão avassalador que posso ouvir uma goteira na pia da cozinha alternando com a respiração pesada do otário. “Bom, temos um trato, eu cubro a sua aposta. Agora abra seu jogo!”, ordenou ele quase rosnando.
Com um sorriso cretino que só eu sei fazer, fito os olhos verdes da esposa e lhe digo para ir se preparando, que hoje eu vou fazer um estrago na sua bundinha gostosa e fazer dela minha putinha.
Viro minhas cartas uma a uma, e pelos cantos dos olhos percebo que ela começou a roer as unhas ao ver a sequência do sete ao valete de copas se formando. “Puta merda, me fodi!”, é tudo o que ela diz enquanto eu já vou me levantando e desabotoando o cinto.
“Pera lá! Não tão rápido assim!”, diz o otário. Quase gargalhando, ele abre seu jogo e eu posso ver uma sequência de espadas levando do dez ao ás. “Royal flush! Ganhei!”, ele gritou.
Enquanto a esposa suspira aliviada e ele recolhe a aposta, eu somente consigo ficar em pé, ali, parado, com cara de babaca. Em quase vinte anos jogando pôquer, eu nunca vi uma rodada com dois “flushes”! A probabilidade disto acontecer é praticamente nenhuma!
O otário fica rindo de mim na porta quando eu vou embora. Ainda zonzo com o jogo, volto para casa a pé, caminho por quase uma hora e estou me sentindo o maior derrotado da face da terra.
À noite, fico dando voltas na cama sem sono, pensando que, na verdade, quem é o otário que tem um problema de jogo sou eu. Como fui apostar meu carro assim? Eu tinha tanta certeza que o otário estava blefando, confiei de tal forma no meu jogo, que nem previ o risco…
Em meio à madrugada e à minha insônia, ouço a campainha tocar. Quando abro a porta, lá está a esposa ruiva e, na rua em frente, vejo o carro que perdi estacionado. “Oi. Desculpe o incômodo da hora, mas preciso falar com você. Posso entrar um pouco?”
Chego para o lado, dou passagem à mulher e, sem entender que raios ela estava fazendo ali de madrugada, pergunto-lhe o que havia ocorrido.
“Enquanto meu marido estava roncando, eu não consegui dormir e fui arrumar a sala, terminar de guardar as coisas. Foi então que descobri embaixo da toalha da mesa várias cartas, talvez a pior mão que já vi, entende?” disse-me aparentando um constrangimento verdadeiro.
“Sinceramente, eu nunca vi duas sequencias saírem assim numa rodada, estou pensando nisso até agora… Você está querendo me dizer que ele roubou? É isso?”, retruquei com raiva.
“Não fique com raiva não, ele não fez por mal. É que ele tem um problema de jogo, sabe? Não sabe quando parar, e rouba se percebe que vai perder… Enfim, eu vim devolver seu carro”.
Dito isso, deixou cair o casaco, ficou nua como veio ao mundo, caminhou até a mesa de jantar onde se debruçou, afastou as nádegas polpudas e, olhando para trás em minha direção, completou: “Aposta é aposta. Agora venha aqui comer sua putinha que eu mereço aquele estrago que você prometeu fazer na minha bundinha gostosa!”
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