~ Lascívia ~ [Parte 2/3] ~ “Eu nunca fui boa com palavras, mas pela primeira vez, isso deixou de ser um problema, e virou uma solução.”
Dias depois da festa ainda haviam consequências daquele ataque à minha sanidade. A vida de todo mundo seguiu, e Catharine sequer parecia se lembrar do que tinha acontecido… talvez eu devia fazer o mesmo, afinal.
Falar sempre é mais fácil do que fazer, como sabemos. E é claro que eu não conseguia me concentrar em nada que não fosse a fome do beijo dela formigando nos meus lábios, e o desejo de toque entre as minhas pernas.
Conforme as aulas passavam, minha atenção se esvaía cada vez mais, voltando-se repetidamente à imagem do motivo do meu colapso sentada a duas fileiras da minha.
Meus pensamentos rodavam em um furacão em volta das sensações que meu corpo insistia em me lembrar. O arrepio daquele toque suave, o calor daquele beijo, o cheiro e a textura daquele batom… Tudo na era tão insuportavelmente convidativo, que chegava a ser irritante. Uma irritação de não tê-la.
Quando fui resgatada do transe com um estalar de dedos diante do meu rosto, a sala de aula estava vazia, e aquele par de olhos oceânicos estavam me encarando como um júri que avalia o suspeito de um crime.
“Tava longe, hein? Tava pensando no que?”
Ela perguntou parecendo já ter certeza de qual seria a resposta, porque assim que a fez, ela sorriu, e apoiou o rosto na própria mão enquanto me olhava, aguardando uma reação que não fosse um gaguejar da minha parte.
Eu desconversei, desviei o assunto ao citar uma das provas que teríamos nos próximos dias, e ela? Não se convenceu, é claro. Talvez minha expressão de luxúria involuntária durante meu devaneio me denunciou mais do que eu gostaria.
Mas ela pareceu ficar sutilmente decepcionada com minha resposta verbal, e ali eu entendi, de uma forma que não imaginava que entenderia, que ela esperava mais de mim.
Ela se aproximou, e eu acompanhei com os olhos aquela distância diminuir, sem saber ao certo se naquele momento, nossa amizade ganharia um novo capitulo ou se teria um ponto final, porque eu sabia no fundo do meu ser, que qualquer que fosse a conversa a seguir, só levaria a um unico lugar. Ela se apoiou na mesa a qual eu estava, e suspirou pesado ao descer os olhos em uma linha de pensamentos que eu jamais teria acesso. “Olha… Se te deixei desconfortável, a gente pode só esquecer aquilo que rolou, se você quiser.”
Ela sabia onde minha mente foi parar. Ela percebia tudo… Ou quase tudo.
Minha resposta não saiu de imediato, e ela parecia paciente em esperar, mesmo sem uma previsão. Quando por fim decidi respondê-la, me levantei da cadeira e me aproximei dela, o suficiente pra causar um espanto mesclado em curiosidade, porque a proximidade de fato, foi grande. Eu nunca fui boa com palavras, mas pela primeira vez, isso deixou de ser um problema, e virou uma solução.
Minha destra subiu ao rosto dela em uma caricia lenta, carregada de um carinho que tinha intenção de virar algo a mais. Ela me olhava de forma fixa em resposta, um olhar tão fundo que eu podia sentir o tempo ganhando peso naqueles segundos. Engoli a seco quando meus olhos ousaram se desprender dos dela de forma involuntária, apenas pra que a gravidade do desejo os levasse aos seus lábios, os mesmos que tiraram minha concentração, e agora, devolviam-me, me prendendo neles.
“O problema tem sido exatamente eu não querer esquecer.”
Ela sorriu com minha resposta, e dali, eu jamais sairia inteira.
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