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Noite de jogos
Era sexta-feira, estava cansado, e a ideia de socializar com um monte de gente que eu mal conhecia me deixava mais nervoso do que eu queria admitir. Mas a Lu apareceu no meu quarto com sua jaqueta jeans cheia de patches, o cabelo preso num coque bagunçado e aquele olhar que sempre me vencia.
— Vai ser divertido, juro. E, se não for, a gente vaza depois da segunda rodada de vinho.
Lu era meu oposto. Onde eu era retraído, ela era elétrica. Tinha um jeito afiado de falar, uma risada que virava todas as cabeças da sala, e uma beleza que ela usava com despreocupação. Morena, pele dourada, olhos escuros que pareciam sempre saber mais do que diziam. Ela era assumidamente lésbica desde o ensino médio, e tinha o dom de fazer qualquer ambiente girar em torno dela sem parecer que estava tentando.
Eu, por outro lado, era o tipo que observa antes de agir. Camiseta preta básica, cabelo um pouco desalinhado de propósito — ou de preguiça — e um nervosismo discreto que me acompanhava em quase toda situação social.
Fomos juntos até a casa da Ana, a tal amiga dela da faculdade que eu só tinha visto uma vez ou outra nas redes. Eu não esperava muito, mas assim que ela abriu a porta, entendi o motivo de Lu insistir tanto.
Ana era… outra energia. Alta, loira natural com mechas douradas realçadas pelo abajur da sala, vestia um short de moletom curto e uma regata cavada que deixava à mostra metade de uma tatuagem no quadril. Tinha olhos claros — talvez verdes? — e um sorriso preguiçoso, provocador, como se tudo fosse uma piada particular que só ela entendia.
— Até que enfim! — ela disse, abrindo os braços. O abraço na Lu foi apertado, íntimo. Em mim, ela pousou os olhos por um instante a mais. — E você deve ser o tal “melhor amigo hétero” da Lu. Ela fala tanto de você que eu quase achei que era inventado.
Sorri sem graça. — Sou real, prometo.
O apartamento estava cheio, mas aconchegante. Gente sentada no chão, copos na mão, uma música ambiente e aquele clima de início de noite que podia ir pra qualquer lado.
Sentamos os três juntos no chão, formando um pequeno triângulo dentro do círculo. A primeira rodada foi “Eu Nunca”, e em menos de cinco minutos eu já estava rindo, corando, e tentando não parecer tão afetado pelas frases que envolviam beijos entre amigas, noites a três e strip poker.
Lu me cutucava discretamente toda vez que Ana falava alguma coisa mais ousada. E Ana… bem, ela olhava direto pra mim quando fazia essas perguntas.
Eu estava prestes a me afogar no meu segundo copo de vinho quando alguém sugeriu: — Que tal “Verdade ou Desafio”?
E foi ali que tudo começou a esquentar.
— Verdade ou desafio? — perguntou Ana, com a voz arrastada de quem já conhecia os efeitos do vinho e estava gostando do rumo da noite.
A garrafa girou e parou justamente nela. Alguém sorriu, malicioso: — Verdade.
— Qual foi o lugar mais inusitado onde você já transou?
Ela riu, olhando para o teto por um segundo antes de responder. — Na escada de incêndio do meu antigo prédio. — Depois, virou o rosto devagar na minha direção. — Mas não sozinha, claro.
O grupo vibrou com gracinhas, mas eu senti aquele olhar mais do que ouvi qualquer outra coisa. Um arrepio subiu pela minha nuca. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. E Lu, sentada ao meu lado, não perdia nada disso.
A garrafa girou de novo e caiu na Lu.
— Desafio — ela disse sem pensar.
Ana arqueou uma sobrancelha. — Beija alguém aqui na roda.
Lu sorriu, olhando diretamente pra ela. — Alguém específico?
— Liberdade criativa.
Meu coração deu um salto, idiota que sou. Mas, para minha surpresa, Lu se virou pra mim. — Pode ser você?
Eu ri, nervoso. — Acho que… pode?
Antes que eu pensasse em mais alguma coisa, ela se aproximou e me deu um beijo leve, só os lábios, mas demorado o bastante pra me deixar completamente paralisado.
— Fofo — disse ela, voltando pro lugar. — Sempre quis saber como era.
Ana soltou uma risada baixa, quase rouca. — Posso pedir revanche mais tarde?
A tensão entre nós três estava desenhada no ar. As palavras estavam começando a soar com camadas demais, e os olhares duravam segundos demais. Meus sentidos estavam acesos — o vinho, os toques casuais, os risos mais soltos. Eu sabia que aquilo podia estar na minha cabeça… mas não parecia.
A garrafa girou mais algumas vezes. Risadas, provocações, confissões meio bêbadas. Até que Lu recebeu outro desafio.
— Escolhe alguém pra dar um beijo de verdade — disseram.
Ela não hesitou. Se virou para Ana dessa vez, com um sorriso de canto de boca.
O beijo entre elas foi diferente. Profundo. Quente. Lento. Durou tempo suficiente pra todo mundo na roda ficar em silêncio, como se tivessem esquecido o jogo. Inclusive eu.
Quando elas se separaram, Lu voltou a se recostar ao meu lado — como se nada tivesse acontecido. Mas sua perna roçava a minha agora. E Ana, do outro lado, ainda me olhava. Só que com outra intenção. Como se eu estivesse no meio de um plano que elas não pretendiam esconder por muito mais tempo.
A brincadeira perdeu ritmo depois daquele beijo. Ninguém falou em parar, mas a atenção geral começou a se dispersar. Algumas pessoas foram buscar mais bebida, outros se levantaram para fumar na sacada. Quando percebi, éramos só nós três no tapete: eu, Lu e Ana.
Ana esticou as pernas, se deitando de lado, apoiando a cabeça na mão. — Acho que o jogo acabou. Mas eu ainda estou com vontade de brincar um pouco.
O comentário pairou no ar com segundas, terceiras e quartas intenções.
Lu estava ao meu lado, encostada o suficiente pra eu sentir o calor da coxa dela contra a minha. Ela virou o rosto pra mim e disse baixo: — Tá tudo bem pra você?
Eu sabia o que ela queria dizer. Não com todas as palavras, mas com aquele olhar. E mesmo sem saber exatamente onde aquilo ia parar, eu respondi com um aceno leve. — Tô bem. Tô curioso, na real.
Lu sorriu. A mão dela pousou na minha perna, firme e ao mesmo tempo cuidadosa. — Bom.
Ela se inclinou e me beijou de novo, mas dessa vez não foi só um selinho tímido. Sua boca se encaixou na minha com mais intensidade, a língua roçando de leve, provocando. Meu coração disparou. Eu senti a mão dela subindo pela minha coxa devagar, enquanto os dedos da outra tocavam minha nuca.
Quando o beijo terminou, meu corpo já estava em outro lugar.
Ana ainda estava ali, observando tudo com aquele sorriso no canto da boca. — Ele beija bem? — perguntou, olhando pra Lu.
— Beija. E fica sem ar, olha isso — respondeu ela, rindo baixinho, passando o dedo pelo meu pescoço.
Ana se aproximou devagar, ficando de joelhos à minha frente. Seus dedos deslizaram pela barra da minha camiseta. — Posso?
Assenti de novo, quase sem conseguir falar.
Ela puxou minha camiseta devagar, expondo meu peito. Os dedos dela traçaram linhas pelo meu abdômen, leves como um sussurro. E então, ela se inclinou e beijou minha pele, perto da clavícula. Lento. Molhado. Quente.
Lu ficou atrás de mim, e seus braços me envolveram, as mãos explorando meu corpo com mais liberdade. Seus lábios roçaram minha orelha, e ela sussurrou: — Relaxa. Deixa a gente cuidar de você um pouco.
Eu fechei os olhos.
Não havia mais regras. Só o calor, os toques, e duas garotas completamente diferentes — uma intensa e direta, outra provocante e controlada — me envolvendo como se tivessem ensaiado tudo isso antes. Como se eu fosse o prêmio da noite.
Ana estava sentada no meu colo, o quadril dela pressionando o meu em movimentos suaves, calculados. O top leve dela deslizava pela minha pele, e eu podia sentir cada curva, cada ponto de calor entre nós. Lu estava atrás de mim, as mãos e a boca explorando meu pescoço, meu peito, minha cintura com uma confiança que só aumentava meu desejo.
A sala ainda tinha algumas pessoas, mas ninguém prestava atenção em nós. E mesmo assim, o risco — o limite entre o público e o privado — tornava tudo ainda mais intenso.
Ana se inclinou, beijando meu pescoço devagar. — Se a gente continuar aqui, vou acabar montando em você na frente de todo mundo — sussurrou no meu ouvido, com aquele sorriso sacana que fazia meu corpo reagir sem pensar.
Lu riu baixinho. — Que tal a gente mudar o jogo de lugar?
Me levantei com elas, meio atordoado pelo vinho e pelo toque de ambas, e segui sem pensar enquanto Ana nos guiava pelo corredor, a mão dela firme na minha. O quarto ficava no fim do corredor, e assim que a porta se fechou atrás de nós, o clima mudou de vez.
O quarto era amplo, com luz baixa e uma cama desfeita no centro. Ana se encostou na porta, me olhando de cima a baixo como se decidisse por onde começaria. Lu já estava tirando a própria blusa, revelando o sutiã preto rendado e a pele dourada sob a luz suave do abajur.
Eu me senti entre duas forças: a energia elétrica de Lu e o magnetismo hipnótico de Ana. E ambas estavam agora voltadas para mim.
Ana se aproximou, tirando minha camiseta com um puxão suave. — Agora sim a gente pode brincar de verdade.
Lu se sentou na beira da cama, me puxando para perto dela, as mãos abrindo meu jeans com agilidade. — Vem cá. Deixa a gente cuidar de você direito.
A cama era grande, e macia demais para o tanto que meu corpo tremia. Eu estava deitado com Lu ao meu lado, o cabelo dela caindo em ondas escuras sobre meu abdômen enquanto ela me observava como se ainda estivesse decidindo o que fazer.
— Já fez isso com um cara antes? — perguntei, a voz rouca, tentando soar casual mesmo com o coração disparado.
Ela riu, desviando os olhos por um segundo. — Não. Só com garotas. É diferente… mas não impossível.
Ana, que até então estava de pé aos pés da cama, tirando o short com toda a calma do mundo, sorriu ao ouvir aquilo. — Então vamos fazer assim… — Ela subiu na cama, de joelhos, se aproximando por trás da Lu. — Eu te mostro. Com calma. Você aprende. E ele aproveita tudo.
Lu olhou por cima do ombro, o sorriso meio tímido, meio excitado. — Sério?
— Sério — disse Ana, passando os braços em volta dela, o corpo colado atrás do dela. — Vem. Coloca a mão aqui. — Ana guiou a mão de Lu até meu quadril. — Agora aqui… — E os dedos deslizaram até meu membro, com firmeza.
O toque da Lu era hesitante no começo, mais por cuidado do que por insegurança. Mas Ana estava com ela, quase colada, sussurrando instruções entre beijos na nuca e toques leves em seu corpo.
— Usa a língua primeiro. Só a ponta. Vai brincando com ele… devagar.
Lu obedeceu, inclinando-se sobre mim. A primeira lambida foi suave, tímida. Quase um toque de curiosidade, mas ainda assim me fez ofegar. Ana observava, os olhos fixos em nós dois, e com as mãos envolvia Lu, estimulando, guiando seus gestos.
— Isso, assim… agora abre mais a boca. Vai deixando ele sentir teu calor. — Ana dizia tudo com aquela voz baixa, embriagante, como se cada palavra fosse parte de um feitiço.
Lu começou a se soltar. As lambidas tímidas viraram movimentos mais confiantes. Quando ela me envolveu com os lábios, lentamente, senti meu corpo todo reagir. Ana, sempre por trás dela, apertava seus seios, beijava seus ombros, e murmurava encorajamentos que deixavam o ar ainda mais denso ao redor.
— Ele tá gemendo. Tá gostando… você tá fazendo certo.
Eu gemia mesmo, tentando manter o controle. Era impossível. Ver Lu naquela posição, entregando-se a algo novo, e Ana moldando cada movimento com precisão e prazer, era algo que eu nunca nem imaginei presenciar.
Em determinado momento, Ana se inclinou também, e as duas dividiram minha ereção entre bocas e línguas. Uma mais ousada, a outra ainda descobrindo — mas juntas, me levando a um limite tão prazeroso que meus quadris se moveram sem que eu quisesse.
Lu parou por um instante, ofegante, me olhando com olhos escuros e brilhantes. — Eu tô fazendo direitinho?
— Você tá me deixando maluco — respondi, quase sem voz.
Ana olhou pra mim e sorriu, como se soubesse exatamente onde eu estava prestes a chegar.
— Deixa vir, amor. A gente quer — disse ela, com aquela calma provocadora.
Lu acelerou levemente o movimento, e foi o suficiente.
O clímax me atravessou com força. Meu corpo se arqueou, os músculos tensionados, o ar preso no peito por um segundo que pareceu eterno. Eu gozei intensamente, os gemidos escapando sem controle.
Lu recuou um pouco, surpresa, mas com um sorriso satisfeito. Ana passou o polegar pelo meu abdômen, limpando um fio branco com uma expressão quase reverente.
— Primeira vez? — perguntou a Lu, divertida.
— Primeira vez com gosto de vitória — respondeu ela, rindo.
As duas se olharam e se beijaram outra vez — quente, confiante, cúmplice. E eu, ainda ofegante, sentia o coração tentando alcançar o fôlego que o resto do corpo ainda não tinha recuperado.
O quarto estava mergulhado num silêncio denso, quebrado apenas pelas nossas respirações — ofegantes, descompassadas. O calor entre nós não tinha diminuído; pelo contrário, parecia mais intenso agora, com Lu e Ana trocando beijos entre sorrisos e toques enquanto meu corpo ainda pulsava do orgasmo anterior.
Ana se aproximou de mim, montando em meu colo com a segurança de quem sabe o que quer. Seu corpo encaixou no meu como se tivesse sido feito para aquilo. Ela me olhou nos olhos enquanto descia devagar, me envolvendo por completo com o calor do seu sexo. A sensação era absurda — úmida, profunda, quente demais.
Ela começou a cavalgar em um ritmo lento, provocante, os quadris girando, o cabelo caindo sobre os ombros enquanto gemia baixo, mordendo o lábio inferior.
Lu, ao lado, assistia tudo com olhos famintos. Mas não ficou parada por muito tempo.
— Minha vez — murmurou, se aproximando por trás de Ana, passando os braços em volta dela e acariciando seus seios, a boca brincando em sua nuca, em seu ombro.
Ana arqueou as costas entre nós dois, gemendo entre um movimento e outro, enquanto Lu a estimulava, sem pressa, mas com uma precisão que fazia o corpo dela tremer entre nossos toques.
Quando Ana se deitou, ainda ofegante, foi Lu quem montou sobre mim. Ela ainda parecia surpresa com o próprio desejo — não pelo ato em si, mas pela forma como se entregava. Seus movimentos eram mais intensos, mais diretos. Ela se inclinou sobre mim, os seios colados ao meu peito, o ritmo aumentando a cada investida. Os olhos dela fixos nos meus, como se quisesse ver até onde eu aguentaria.
Enquanto isso, Ana se aproximava novamente, acariciando Lu, beijando minha boca, mordendo de leve minha mandíbula.
Depois de um tempo, fomos trocando, nos revezando, sem pressa. Ana por cima, Lu deitada sob mim, depois Lu por trás de Ana, enquanto eu a penetrava por trás, segurando firme em sua cintura, sentindo os corpos das duas se tocarem com naturalidade e desejo.
Tudo fluía. Cada toque, cada posição, cada suspiro se encaixava como uma nova dança. Não era sobre quem fazia o quê, mas sobre o prazer compartilhado entre nós — o calor, os sons, a entrega total.
Quando o segundo orgasmo veio, foi quase ao mesmo tempo. Lu deitada ao meu lado, ofegando e me acariciando o peito, e Ana por cima dela, os quadris ainda se movendo quando ela gemeu forte, se desfazendo contra meu corpo uma última vez.
O quarto ficou em silêncio.
Corpos entrelaçados. Respirações lentas. Um calor que ainda pulsava, mesmo depois do fim.
E eu ali, entre elas, pensando que aquela noite de jogo tinha virado algo bem maior.
(Desculpa pelo conto grande de novo)
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