Liberdade Publicado por anônimo em 14/12/2022 em Gay

"A luz fraca da lua mal iluminava a intimidade de dois rapazes que escolheram aquela praia, naquela hora sempre deserta, como palco de um coito intenso. O vento da noite litorânea era forte, mas os arrepios ali não eram de frio."

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A luz fraca da lua mal iluminava a intimidade de dois rapazes que escolheram aquela praia, naquela hora sempre deserta, como palco de um coito intenso. O vento da noite litorânea era forte, mas os arrepios ali não eram de frio. Ambos ainda de camiseta e com as bermudas abaixadas o bastante apenas para expor o sexo, Miguel, pouco sentindo o atrito áspero da areia nas mãos e joelhos, recebia Jorge. Os barulhos intensos da praia não conseguiam ocultar de Miguel os gemidos guturais do jovem atrás de si. Ele, então calado, não conseguiu mais evitar. Da sua boca, que antes só emitia suspiros contidos e inaudíveis no infinito fluxo eólico do ambiente, começaram a fluir gemidos intensos de prazer.

Cada vez mais fortes, seus sons se misturavam com os de Jorge, mas Miguel logo ultrapassou o seu parceiro. Seus gemidos se transformaram em gritos, exteriorizando o maior prazer que já sentira na vida. Jorge se surpreendeu, nunca tinha feito nenhum homem se expressar daquele jeito. Sentiu-se mais determinado em dar ainda mais prazer. Ele não sabia, porém, que aqueles brados expressavam sentimentos muito mais profundos.

O padrasto de Miguel, que há anos já chamava de pai, vinha ao seu quarto durante à noite no mínimo uma vez por semana, enquanto seus irmãos mais novos dormiam e sua mãe trabalhava no hospital. Para abafar os gritos do abuso, o homem tapava-lhe a boca e o impedia de chamar a atenção dos irmãos e vizinhos. Os protestos e denúncias que nunca saíram enchiam seu peito de sofrimento e pesavam o seu corpo de culpa. A desgraça aconteceu por anos e só terminou quando o criminoso morreu em um acidente de carro no qual dirigia alcoolizado, mas onde levou junto a esposa que nunca soube de nada. Miguel foi retirado à força do velório pelo tio quando cuspiu no corpo morto daquele que fora seu carcereiro. Acostumado ao silêncio, se tornou calado. Escondeu o seu abuso de todos e a si mesmo do mundo.

Na noite do aniversário da sua mãe, anos depois, durante as férias que passava na casa do pai biológico que só então se tornou presente, ele passeava pela orla da praia quando conheceu Jorge. Conversaram por alguns dias até chegarem àquele momento, onde Miguel pôde, enfim, libertar sua voz. Libertou sua dor em cada decibel de prazer que emitia, agora sem nenhum pudor, culpa ou medo. O homem que penetrava o seu íntimo não era mais o pedófilo imundo que o fazia à força. Ele finalmente entregava o seu corpo à liberdade de alguém que só queria compartilhar sua companhia. Por isso, permitiu-se gritar. Gritou porque queria. Gritou porque podia. Gritou para expor todo o prazer do sexo, agora consentido, pela primeira vez e em todas as vezes que desde ali viriam a acontecer.

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