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A Chegada do novo assistente - Parte 1
A rotina do escritório tem dessas coisas, não é? A gente pensa que já viu de tudo, que os dias serão sempre iguais. Até que alguém novo chega e, sem querer, muda tudo. Foi o que aconteceu com o Pedro. Ele veio para ser meu assistente administrativo, um garoto de 25 anos, com aquele ar de quem acabou de sair da faculdade, cheio de ideias e uma energia que, confesso, me pegou de surpresa.
A princípio, era só trabalho. Papéis para organizar, planilhas para preencher, materiais para separar. Coisas do dia a dia. Eu, a coordenadora experiente, e ele, o novato sedento por aprender. Eu me via explicando as rotinas, mostrando os atalhos do sistema, e ele, sempre atento, absorvendo tudo com uma rapidez impressionante. Mas, conforme os dias passavam e a gente se acostumava com a presença um do outro ali, lado a lado, algo começou a mudar.
Não sei dizer exatamente quando, mas aqueles olhares rápidos, que antes eram só de “entendido?”, começaram a se prolongar um pouco mais. Um sorriso que durava um segundo a mais do que o necessário. Um toque sutil na mão ao entregar um documento, que parecia inocente, mas deixava uma marca de calor. Eu percebia, claro que percebia. E a pior parte é que eu sentia o mesmo.
Era um jogo de gato e rato, uma dança silenciosa onde cada um tentava decifrar o outro sem quebrar a postura profissional exigida. Eu sentia meu coração acelerar quando ele se inclinava sobre a mesa para me mostrar algo no computador, o cheiro suave do perfume dele preenchendo o pequeno espaço entre nós. Meu rosto, teimosamente, ficava mais quente, e eu me pegava prendendo a respiração, tentando disfarçar a onda de sensações que me invadia.
Ele, por sua vez, tinha um jeito de me olhar que me desarmava. Um misto de admiração e algo mais, algo que eu ainda não ousava nomear. Seus olhos castanhos, tão jovens e expressivos, me percorriam de um jeito que me fazia sentir… desejada. Como se, para ele, a Tina de 52 anos não fosse apenas a chefe, mas uma mulher com um fogo que ele desejava atiçar.
A gente falava de prazos, de relatórios, de metas. Mas por trás de cada palavra dita, havia um subtexto, uma tensão quase palpável que nos envolvia. Eu tentava me concentrar nas tarefas, na pilha de documentos que esperava por mim, mas a presença dele, a proximidade, o simples fato de saber que ele estava ali, alterava completamente meu foco.
O trabalho continuava, sim. Os documentos eram preparados, os materiais separados. Mas, agora, cada tarefa tinha uma camada extra de… expectativa. Uma faísca havia sido acesa, e eu me perguntava quando, ou melhor, se ela se tornaria uma chama.
Era quase como se o destino estivesse conspirando a nosso favor. No escritório, era comum nos encontrarmos “por acaso” em cantos mais vazios: o final de uma reunião onde todos já tinham saído, o refeitório na hora do almoço quando a maioria já tinha voltado, ou aquele breve momento na copa, pegando um café. A conversa, antes restrita a prazos e relatórios, começava a se desviar para amenidades, um comentário sobre o tempo, um desabafo sobre a correria. Pequenas frestas que se abriam na muralha da profissionalismo.
E então, veio o happy hour. Aquele em que a bebida era a desculpa, mas o desejo já estava ali, latente. A noite foi esvaziando o bar, e de repente, éramos só nós dois, e mais uns poucos que nem notavam nossa presença.
“Pedro, você vai para casa?”, perguntei, a voz um pouco mais suave do que o normal, talvez pela cerveja, talvez pela ousadia que me invadia.
Ele sorriu, um sorriso que fez meu estômago dar um nó. “Vou sim, Tina. Mas moro lá na periferia da Zona Leste, acho que fica bem fora do seu caminho.”
Meu coração deu um salto. A Zona Leste… era realmente longe do meu bairro. Mas a ideia de deixá-lo ir embora, de que a noite terminasse ali, era insuportável. “Não tem problema”, eu disse, sentindo uma coragem que não sabia que tinha. “Te deixo no ponto mais próximo, na estação do metrô. É no meu caminho.”
Ele hesitou por um segundo, e eu senti a tensão no ar. Aquele era o ponto de virada. “Tem certeza?”, ele perguntou, os olhos fixos nos meus.
“Tenho sim”, respondi, já pegando as chaves do carro.
O silêncio no carro, a princípio, era um pouco constrangedor. A música baixa do rádio preenchia o espaço, mas não a lacuna entre a Tina coordenadora e o Pedro assistente. Eu sentia o cheiro dele, o calor da presença dele ali, tão perto.
“Então, Pedro”, comecei, tentando quebrar o gelo, “como está sendo para você essa mudança de rotina? Sair da faculdade e cair de cabeça no mundo corporativo?”
Ele riu, um som gostoso que me relaxou um pouco. “É um choque, Tina. Na faculdade, a gente sonha com umas coisas, e na prática, é tudo diferente. Mas estou gostando, aprendendo muito com você, inclusive.”
Senti meu rosto esquentar. “Ah, que isso, Pedro. Só estou fazendo meu trabalho.”
“Não é só isso”, ele retrucou, e eu senti o olhar dele em mim, mesmo sem desviar os olhos da estrada. “Você tem um jeito de lidar com as coisas, uma calma… e umas sacadas que eu nunca teria. É inspirador.”
Inspiração. A palavra me pegou de surpresa. Começamos a falar sobre nossas vidas fora do escritório. Ele me contou sobre a família, os amigos, os sonhos de viajar. E eu, me peguei falando sobre o Tiago e o Paulo, sobre as dificuldades de conciliar a vida pessoal com a profissional, sobre os desafios do casamento. Coisas que jamais diria a um colega de trabalho, muito menos a um assistente recém-contratado.
A cada semáforo, nossos olhares se encontravam, e a barreira invisível entre nós parecia se dissolver. A conversa fluía, leve, mas carregada de um significado novo. Não éramos mais apenas colegas. Éramos Tina e Pedro, duas pessoas compartilhando um pedaço da noite e, talvez, um pedaço de suas almas.
Quando chegamos à estação de metrô, o carro parou. O silêncio voltou, mas agora era um silêncio diferente, carregado de tudo o que não foi dito, mas que foi sentido.
Aquele carro parado na frente da estação de metrô… O silêncio, antes constrangedor, agora era carregado de uma eletricidade que eu mal conseguia respirar. A conversa particular havia aberto uma fresta, e a atração que flutuava entre nós no escritório agora estava palpável, quase gritando.
“Obrigado pela carona, Tina”, Pedro disse, a voz mais baixa do que o normal, quase um sussurro.
“De nada, Pedro. Boa noite.” Minha voz saiu um pouco rouca, e eu senti o rosto esquentar.
Ele abriu a porta para sair. Eu observei cada movimento dele, o corpo jovem e forte se movendo para fora do carro. E então, ele se virou, a mão ainda na maçaneta, e me olhou. Aquele olhar que eu já conhecia, mas que naquele momento parecia mil vezes mais intenso. Um convite mudo, uma pergunta sem palavras.
Eu não sei quem se moveu primeiro, se foi ele que se inclinou de volta para dentro ou se fui eu que me projetei um pouco em sua direção. Talvez fosse o destino, aquela força invisível que vinha nos empurrando um para o outro há semanas. O que sei é que, no que deveria ser um simples “tchau”, houve um descuido.
Nossos olhos ainda estavam presos um no outro quando, de repente, nossos lábios se encontraram. Não foi um beijo de verdade, não no início. Foi um roçar suave, um toque fugaz, mas tão intenso que pareceu uma explosão. Uma faísca. O choque de calor foi instantâneo, e meu corpo reagiu antes mesmo que minha mente pudesse processar.
Recuamos no mesmo instante, como se tivéssemos sido atingidos por uma onda de choque. Mas o dano – ou o benefício – já estava feito. Meus lábios ainda formigavam, a sensação dos dele ainda fresca na minha boca. E quando nossos olhares se encontraram novamente, agora era inevitável.
Não havia mais como esconder. Nosso segredo havia acabado de se materializar, ali, na porta do meu carro, à vista de quem passasse (embora, felizmente, a rua estivesse deserta). O ar estava denso com a nossa respiração acelerada, e o silêncio era preenchido pelo som dos nossos corações batendo descompassados.
Os olhos de Pedro brilhavam com uma mistura de surpresa, desejo e uma pitada de ousadia. E eu? Eu sentia o rubor subir pelo meu pescoço, o calor se espalhar por todo o meu corpo, e uma umidade inconfundível. A culpa ainda não tinha chegado. Só uma excitação avassaladora e a certeza de que aquele toque, aquele beijo “acidental”, mudaria tudo.
As semanas que se seguiram àquela noite no carro foram uma tortura deliciosa. Cada dia no escritório era uma dança de disfarces. Pedro e eu nos esforçávamos para manter a postura profissional, mas era inútil. Cada olhar que se cruzava, cada esbarrão “acidental” no corredor, carregava o peso daquele beijo fugaz, daquele instante proibido que havia nos conectado de uma forma irreversível.
Eu me pegava revivendo o momento, sentindo de novo o calor dos lábios dele, a eletricidade que percorreu meu corpo. E sabia, pelo jeito como ele me olhava – uma mistura de timidez e ousadia –, que ele sentia o mesmo. O constrangimento inicial havia dado lugar a uma tensão quase insuportável, um desejo mudo que se acumulava entre nós.
Eu esperava, ansiava por um sinal, por algo que quebrasse o gelo, mas o medo e a culpa me impediam de dar o primeiro passo. E se ele se arrependesse? E se eu estivesse lendo errado os sinais?
Foi então que, numa terça-feira à noite, quando eu já estava em casa, preparando o jantar e com a cabeça longe, meu celular vibrou. Era uma mensagem no WhatsApp. Um número desconhecido, mas meu coração já sabia.
“Oi Tina, desculpa incomodar a essa hora. Vi um detalhe aqui no relatório do projeto X e fiquei com uma dúvida…”
A mensagem era profissional, a desculpa perfeita. Mas eu senti o ar prender na garganta. Ele não iria parar por aí. Eu sabia.
Digitei uma resposta rápida, tentando soar o mais neutra possível: “Oi Pedro, pode falar. Se eu puder ajudar, sem problemas.”
A resposta dele veio quase imediatamente, e desta vez, a informalidade explodiu na tela.
“Na verdade, Tina, não é sobre o relatório. É sobre aquela noite, na carona…”
Meu coração disparou. As mãos tremeram levemente. Aquele descaramento, aquela coragem, me pegou completamente desprevenida. Mas, ao mesmo tempo, um arrepio de excitação percorreu meu corpo. A barreira havia sido quebrada. O que antes era apenas olhares e lembranças, agora se tornava real, ali, na palma da minha mão.
O celular vibrava na minha mão, o nome de Pedro acendendo a tela, e a última mensagem, tão direta, tão ousada, me fez prender a respiração. “Na verdade, Tina, não é sobre o relatório. É sobre aquela noite, na carona…”
Minha cabeça girava. Parte de mim queria fingir que não tinha visto, jogar o celular longe e mergulhar na segurança da minha rotina. Mas a outra parte, aquela Tina aventureira e curiosa, estava em chamas.
Respirei fundo, tentando encontrar as palavras. “Aquela noite?”, digitei, me fazendo de desentendida, mas já sentindo o rubor subir pelo rosto. “O que tem ela?”
A resposta dele veio quase instantaneamente, com uma agilidade que mostrava o quanto ele estava investido naquilo.
“Tina, você sabe muito bem do que eu estou falando. Aquele ‘quase beijo’ no carro. Ou melhor, aquele beijo que não foi tão ‘quase’ assim.”
Meu coração disparou. Ele era direto, descarado. E isso, de alguma forma, me excitava ainda mais. Aquele lado meu, que tanto desejava ser visto e desejado, estava adorando aquela audácia. A culpa, por enquanto, estava em um canto escuro da minha mente.
“Pedro, não sei… A bebida, o cansaço… Às vezes a gente se confunde”, tentei argumentar, mas a cada palavra digitada, eu sentia a mentira me sufocar.
Ele mandou um emoji de risada, e aquilo me fez sorrir, apesar de tudo.
“Confusão? Tina, seus olhos não estavam confusos. Nem os meus. Você sentiu, eu senti. Aquela semana depois, no escritório, foi um inferno de tensão. Eu não conseguia parar de pensar naquilo.”
Eu já não conseguia mais me conter. Minhas mãos suavam enquanto eu digitava.
“É, foi… diferente”, admiti, deixando um pouco da minha guarda cair. “Eu também não esperava.”
“Nem eu”, ele respondeu. “Mas, para ser sincero, eu espero muito mais agora. Desde aquele dia, tudo mudou. Aqueles seus olhos me perseguem.”
A confissão dele me atingiu em cheio. Aquele garoto, tão mais jovem, me desejando daquele jeito. Aquele misto de excitação e um fio de perigo me dominava. Eu já estava completamente envolvida na conversa, esquecendo o jantar no fogo, esquecendo o Carlos, que logo chegaria.
“E o que você ‘espera’ agora, Pedro?”, digitei, mordendo o lábio, convidando-o a ir além.
O próximo texto dele demorou um pouco mais. Eu podia imaginá-lo pensando, formulando a proposta. E quando a mensagem chegou, fez meu corpo todo vibrar.
“Eu espero poder conversar com você de novo. Sem desculpas de trabalho, sem olhares disfarçados. Em um lugar onde a gente possa ser… a gente. O que você acha de sairmos para tomar um drink, só nós dois, na sexta-feira à noite? Longe de tudo.”
A proposta. Ali estava ela. Clara, direta, convidativa. Meu estômago se revirou de ansiedade. Um drink, só nós dois. Na sexta à noite. Meu coração batia forte. Era o que eu queria, o que eu temia, o que me excitava.
A mensagem de Pedro, com a proposta de um drink na sexta à noite, fez meu corpo inteiro vibrar. Era o que eu queria, o que eu temia, o que me excitava. Mas a ideia de um “drink” parecia… pouco. Eu queria mais. Queria quebrar todas as barreiras de uma vez. E a sexta-feira, com a empresa esvaziando mais cedo, era a oportunidade perfeita.
Respirei fundo, sentindo a adrenalina correr nas veias. A culpa ainda estava adormecida, sufocada pela audácia que me dominava.
“Pedro”, digitei, sentindo um sorriso maroto surgir nos meus lábios, “um drink é bom, mas acho que podemos ser mais… eficientes.”
Ele respondeu com um ponto de interrogação, e eu quase pude ver a confusão em seu rosto.
“Na sexta-feira, como saímos mais cedo, posso ‘criar’ uma reunião com um fornecedor fictício. Algo urgente, que precise da sua ajuda. Assim, podemos sair do escritório próximo do horário do almoço e ninguém vai suspeitar.”
Eu fiz uma pausa, sentindo o coração bater forte. A próxima frase era o ponto crucial, a prova de fogo.
“E em vez de um drink, a gente pode ir direto para um lugar onde possamos conversar com mais… privacidade. O que você acha?”
Enviei a mensagem e esperei, com o celular grudado na mão, o corpo tenso. Demorou um pouco mais do que as outras respostas, e eu imaginei Pedro lendo, relendo, processando a ousadia da minha proposta.
Quando a resposta veio, foi curta, mas carregada de uma excitação contida: “Onde você está pensando, Tina?”
Um sorriso vitorioso se espalhou pelo meu rosto. Ele mordeu a isca.
“Você vai ver”, digitei, com um toque de mistério. “Confia em mim?”
“Confio”, ele respondeu, e um arrepio percorreu minha espinha.
A sexta-feira chegou, e eu executei meu plano com uma naturalidade que me surpreendeu. Inventei a tal reunião com o “Fornecedor Alfa”, algo sobre um contrato urgente. Pedro, claro, concordou em me acompanhar. Saímos do escritório por volta das 13h, com a desculpa de que iríamos direto para o almoço de trabalho com o “fornecedor”.
No estacionamento, entrei no meu carro e ele entrou no banco do passageiro, como sempre. O clima estava diferente, carregado de uma expectativa silenciosa. Eu liguei o carro, e em vez de seguir o caminho usual para a região dos restaurantes, virei na direção contrária.
Pedro me olhou, confuso. “Tina, não é por aqui que fica o… Fornecedor Alfa?”
Eu sorri, um sorriso que não alcançava meus olhos, que estavam fixos na estrada. “Não, Pedro. Hoje a gente vai para outro lugar.”
Ele ficou em silêncio por um momento, e eu senti a tensão dele. A cada quarteirão que avançávamos, a paisagem mudava. As ruas ficavam mais tranquilas, as casas davam lugar a muros altos e portões discretos. E então, ele viu a placa. Um letreiro luminoso, com letras grandes e chamativas: MOTEL PARAÍSO.
Pedro arregalou os olhos. Seu rosto, antes relaxado pela expectativa, agora estava pálido, uma mistura de surpresa e choque. Ele se virou para mim, a boca ligeiramente aberta, sem conseguir articular uma palavra.
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